Síndrome do Ovário Policístico (SOP)

Resumo:

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um distúrbio comum que atinge as mulheres na menacme e é caracterizado por anovulação crônica, síndrome androgênica e alteração ultrassonográfica característica.

A SOP apresenta uma série de sinais dermatológicos que podem ser confundidos com aspectos fisiológicos da puberdade. O tratamento destas manifestações pode ser feito com drogas antiandrogênicas, além de tratamentos estéticos com laser e medicamentos tópicos.

Síndrome do Ovário Policístico (SOP)

A síndrome dos ovários policísticos (SOP), originalmente descrita em 1953 por Stein e Leventhal, é um distúrbio que afeta cerca de 6% da população feminina em idade reprodutiva.

A forma clássica caracteriza-se por ciclos anovulatórios, sinais clínicos e/ou laboratoriais de hiperandrogenismo, e achado ultrassonográfico de ovários aumentados de volume, à custa de múltiplos cistos em sua periferia.

A definição da SOP é controversa, o que dificulta estudos epidemiológicos. Em 1990, o National Institutes of Health (NIH) estabeleceu como critério para o diagnóstico a anovulação associada às evidências de hiperandrogenismo.

Consenso de Rotterdam

Já em 2003, o Consenso de Rotterdam considerou a presença de ovários policísticos vistos à ultrassonografia como um critério adicional e estabeleceu a definição para SOP como a presença de dois dos três critérios:

Importante para Firmar o Diagnóstico

É importante ressaltar que para firmar o diagnóstico devem ser excluídas outras causas de aumento androgênico, tais como a síndrome de Cushing, hiperplasia adrenal congênita e neoplasias produtoras de hormônio.

As anormalidades hormonais que caracterizam a SOP começam geralmente na adolescência e incluem a hiperinsulinemia e a rápida frequência de pulso de hormônio luteinizante, ambos associados à produção exagerada de androgênios no ovário e na adrenal.

Em indivíduos suscetíveis, o excesso de androgênios reduz a sensibilidade aos pulsos de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), o que prejudica o feedback negativo e favorece a maior frequência de liberação de GnRH.

O GnRH induz o gonadotrofo a secretar hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo estimulante (FSH). No entanto, há um aumento da relação LH/FSH, estimulando a produção ovariana de androgênios e prejudicando o desenvolvimento do folículo. Além disso, durante a puberdade, o aumento dos níveis de hormônio do crescimento leva ao aumento da resistência à insulina, que gera um estado de hiperinsulinemia.

Há também um aumento do nível de androgênios livres circulantes, secundário à diminuição dos níveis da globulina ligadora de hormônios esteroides (SHBG).

SOP na Adolescência

O diagnóstico da SOP na adolescência pode ser difícil já que certos achados na síndrome são fisiológicos nesta idade. Nos primeiros anos após a menarca, 59% dos ciclos são anovulatórios e os ovários aumentados podem ser achados comuns, característicos do processo fisiológico.

Contudo, a persistência da anovulação por mais de dois anos após a menarca merece investigação. A estimativa da prevalência de hiperandrogenemia em adolescentes também é difícil pela falta de dados normativos e da necessidade de se usar valores normais apropriados para cada idade.

Desta forma, fica claro que o critério de Rotterdam aplicado em adolescentes pode superestimar o diagnóstico. Dentre as consequências futuras da SOP estão:

  • O risco aumentado de infertilidade
  • Hipertensão,
  • Diabetes mellitus
  • Dislipidemia
  • Síndrome Metabólica
  • Carcinoma de endométrio.

O hirsurtismo e a obesidade são manifestações que comprometem a estética das pacientes com SOP, muitas vezes reduzindo sua autoestima e afetando a qualidade de vida.

Alterações Psicológicas

Um estudo mostrou que portadoras da SOP apresentam maior pré-disposição a distúrbios psicológicos, tais como: transtorno afetivo bipolar, depressão e agressão, além de reduzir a vitalidade, a saúde mental e emocional.

Como é realizado o Tratamento?

O tratamento dos sintomas cutâneos da SOP começa com a tentativa de redução dos níveis séricos de androgênios e de seus efeitos.

O uso de anticoncepcionais combinados orais (ACO) é a primeira opção para o tratamento de adolescentes com SOP6.

O estrogênio inibe a produção de LH e andrógeno ovarianos, aumenta a produção de SHBG no fígado e reduz a testosterona livre. O estrogênio também inibe produção de sebo. Efeitos colaterais, como o aumento da resistência à insulina e dos níveis de triglicérides podem ser encontrados.

Quanto ao progestagênio do ACO, o acetato de ciproterona é o mais usado em adolescentes com SOP, já que apresenta efeitos progestagênicos e antiandrogênicos que inibem a secreção de gonadotrofinas e bloqueiam a ação androgênica por meio da ligação com seu receptor.

Formulações Frequentes

A formulação mais comumente encontrada é a associação de 2 mg de acetato de ciproterona com 35 mcg de etinilestradiol. No entanto, algumas pessoas preferem utilizar doses maiores de acetato de ciproterona, que variam de 50 a 100 mg, em associação com 35 a 50 mcg de etinilestradiol.

Alguns estudos revelaram que a drosperinona, análoga à espironolactona, é efetiva na redução do hirsutismo, da acne e da testosterona.

Outras medicações antiandrogênicas podem ser associadas aos anticoncepcionais combinados. A espironolactona, um diurético poupador de potássio com efeito antiandrogênico moderado, diminui a produção ovariana e adrenal de androgênios, compete pelo receptor de androgênios no folículo piloso e inibe diretamente a atividade da 5-α-redutase.

A flutamida é um potente antiandrogênico não esteroidal usado eventualmente com ACO no tratamento do hirsutismo. Em estudo recente, o tratamento com doses diárias de 250 mg de flutamida por 18 meses reduziu os níveis de andógenos e melhorou o hirsutismo, porém, algumas mulheres apresentaram hepatite medicamentosa. Uma combinação de flutamida com ciproterona ou ACO é uma opção interessante de tratamento.

Um estudo sugere a eficácia do fungicida cetoconazol, com algum efeito antiandrogênico, no tratamento da acne e hirsutismo. A eflornitina, um medicamento de uso tópico, inibe o crescimento de pelos por impedir a formação das poliaminas, vitais para a rápida divisão desses tecidos. O uso da eflornitina no rosto leva cerca de oito semanas para se tornar evidente.

Lasers

O laser é bastante utilizado atualmente para a remoção de pelos, sendo o rubi, alexandrita, diodo e neodynium yttrium aluminum garnet (Nd: YAG) os tipos de laser mais utilizados na área dermatológica. O princípio de funcionamento do laser está na sua grande absorção pela melanina, presente em grandes quantidades na base do pelo.

A energia captada é transmitida ao folículo piloso levando a sua destruição. Tal procedimento pode causar dor, cicatrizes e despigmentação, sendo que as duas últimas podem ocorrer principalmente em peles escuras. Além disso, fios brancos ou com tonalidade clara são relativamente resistentes à remoção por laser devido a sua baixa concentração de melanina.

Apesar disso, os efeitos adversos do laser em longo prazo são raros. Já existem estudos que demonstram que o uso combinado da eflornitina com o laser alexandrita de longa pulsação é mais eficiente, pois funciona mais rápido e de forma mais duradoura.

Luz Intensa Pulsada (LIP)

A luz intensa pulsada (LIP) tem seu mecanismo de funcionamento similar ao do laser, porém trata-se de uma luz policromática. Por outro lado, a finasterida, uma droga sintética antiandrogênica que inibe a atividade da 5 α-redutase, é útil no tratamento da alopecia.

Orientações gerais:

A SOP é um distúrbio heterogêneo, com diversas manifestações cutâneas, como hirsutismo, acne, acantose nigricans, e alopecia androgência. O diagnóstico precoce é essencial para um tratamento mais efetivo, que traz melhorias na qualidade de vida das adolescentes e ajuda a evitar possíveis consequências.

Fonte: Prof. Doutor Sérgio Conti Ribeiro

  •  Graduação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
  • Residência médica em Ginecologia e Obstetrícia Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
  • Doutorado em Medicina (Obstetrícia e Ginecologia) pela Universidade de São Paulo (FMUSP)
  • Cursos de especialização nos Estados Unidos, com ênfase em Cirurgia Videolaparoscópica e Cirurgia Robótica.
  • Médico Chefe do Setor de Laparoscopia Ginecológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

O que a Ginecologia Endócrina pode tratar

Puberdade precoce ou tardia;

Alterações do ciclo menstrual ;

Contracepção;

Infertilidade;

Falta de Libido;

Síndrome dos Ovários Policísticos;

Disfunção Ovariana;

Osteoporose;

Reposição hormonal na pré e pós menopausa;

Entre outros